Prisioneiros do Passado - Episódio 02

      

Episódio 02

Escrita por: Ted Moreira

Com 03 Episódios.


Continuação imediata do episódio anterior.


Daniel está cada vez mais chocado. Os segundos se passam e ele permanece observando a foto naquele quarto meio escuro e frio, enquanto Valentina permanece dormindo. As lágrimas do rapaz insistem em cair, e, em um segundo de impulsividade, se levanta e vai direto até a mulher deitada na cama.


Ele a olha atentamente antes de qualquer atitude e percebe que precisa confrontá-la. E então ele a balança sem qualquer receio ao mesmo tempo que grita para acordá-la, e assim acontece. Valentina acorda assustada e logo percebe a expressão de choque do seu filho em sua frente. Ela levanta rapidamente e vai até ele, tentando o abraçar, mas é impedida.


DANIEL — (Atônito/Chorando) Fica longe de mim. Fica longe de mim!


VALENTINA — (Confusa) O que foi que aconteceu, meu filho?


DANIEL — (Gritando/Chorando) Não me chama de filho. Não me chama! (T) Você chamava ele de filho? Hein? Você chamava o Ruan de filho? O meu irmão?


Neste momento, Valentina desaba. Ela chora sem parar, enquanto Daniel permanece a olhando por alto.


VALENTINA — (Nervosa/Desesperada) Deixa… deixa eu te explicar, por favor. Não diz nada, só me deixa explicar!


DANIEL — (Chorando) Explicar o que? Que você… que você me escondeu esse tempo todo que eu tenho um irmão? É isso que você quer me explicar?


VALENTINA — (Nervosa/Chorando) Ninguém sabe onde ele tá. Ninguém sabe se ele tá vivo ou.. ou se aconteceu qualquer coisa!


DANIEL — Ah, é? E por que? An? Vai, me diz. - Ao passo que o rapaz solta as palavras, Valentina fica cada vez mais desesperada. - Por que ninguém sabe sobre ele? O que foi que você fez? Ou foi o meu pai que fez? Vamos lá, dona Valentina! Eu tô te dando outra chance pra me falar tudo. Essa é a hora!


VALENTINA — (Desesperada) Ele fugiu!


Daniel, cada vez mais chocado, a olha atentamente.


DANIEL — Como é que é? Fugiu?


VALENTINA — Com sete anos de idade. 


DANIEL — (Revoltado/Chorando) E por que você não impediu? Por que você não fez ele permanecer do seu lado? Você era a mãe dele. Por que você não… por que você não fez nada?


Valentina está tremendo e totalmente nervosa. Seu olhar é caído, como se estivesse prestes a desmaiar.


VALENTINA — Porque qualquer coisa, qualquer lugar era melhor pra ele do que estar do meu lado. E melhor pra você também! (T) Tudo que eu fiz foi por saber que seria muito melhor pra vocês. Eu deixei ele ir e te escondi coisas. Não me arrependo de nada!


DANIEL — Melhor pra nós, ou melhor pra você? An? Era melhor pra você, não é? Esconder tudo isso de mim… aí eu não teria como te julgar. Ninguém teria como te julgar!


VALENTINA — (Nervosa/Chorando) Para com isso!


A cada palavra de Daniel, Valentina fica ainda mais nervosa e desesperada.


DANIEL — Era melhor pra você jogar um pano por cima de tudo e deixar que… que o tempo fizesse tudo por você. E tudo isso por quê? Por pura covardia! Por puro medo de enfrentar as coisas de frente. (T) Eu só não consigo entender algumas coisas. - Ele agora olha no fundo dos olhos de Valentina e a intimida. - E você vai me responder, não é? Você vai me responder tudo! (T) Quem era o meu pai? An?


VALENTINA — (Nervosa) Sai daqui.


DANIEL — O que foi que aconteceu naquela casa pro Ruan fugir de uma hora pra outra? Me diz!


VALENTINA — (Gritando/Nervosa) Sai daqui! Sai da minha casa. Vai embora. Me deixa em paz! (T) Sai. Sai!


Neste momento, a mulher começa a empurrar o rapaz pra fora ao mesmo tempo que grita sem parar. Ela coloca pra fora e bate a porta com agressividade, passando a chave logo em seguida. Ela permanece chorando compulsivamente, desesperada, sem chão e sem saber o que fazer. Ela deita no chão ao pé da porta e permanece naquela posição por um longo tempo ouvindo os gritos do seu filho vindo de fora do quarto.


Corta Para:


Extremamente chocado e nervoso, Daniel permanece gritando e dando alguns chutes e porradas na porta.


DANIEL — (Gritando/Chorando) Eu nunca vou te perdoar, Valentina. Você tá me ouvindo? Nunca vou te perdoar. Você vai morrer sozinha e sem ninguém como merece.


Ele permanece chorando por um longo tempo. Agora ele senta no chão do corredor escuro, se encostando na parede. Ele parece pensativo ao cruzar seus braços em cima dos joelhos dobrados e relaxar sua cabeça nos braços, permanecendo a olhar pro seu torso.


CENA 02/ CASA DE MATEUS/ QUARTO/ NOITE.


Sentado na cama e com uma tesoura na mão, Mateus parece estar preocupado. O homem recorta alguma coisa e, de repente, pega seu celular e liga para Daniel várias vezes, mas sem sucesso na chamada. O homem larga o celular na cama e continua recortando algo que parece ser uma foto onde Daniel aparece ao lado de Mateus e de algumas outras pessoas. Ele continua recortando até na foto ficar apenas ele e seu namorado.


MATEUS — (Sobre Daniel) Tão lindo! Eu te amo tanto…


Ele levanta a foto para sua frente e continua a olhando sem parar, admirado e com um sorriso no rosto. De repente, a campainha toca e o rapaz se levanta da cama, coloca as fotos no guarda-roupas e vai logo em direção à sala, abrindo a porta e dando de cara com um Daniel estático, aparentemente nervoso e desesperado. A preocupação é instantânea.


O homem rapidamente leva seu namorado até o sofá e fecha a porta, afim de privacidade. Ele olha o rapaz no sofá e senta ao seu lado, lhe dando um forte abraço logo em seguida. É neste momento que Daniel desaba e começa a chorar novamente, dessa vez nos braços do seu amor.


MATEUS — (Confortante) Chora. Chora que vai aliviar tudo. Bota pra fora!


DANIEL — (Desesperado) Eu sabia. Eu sabia que ela estava me escondendo algo grave. (t) Você tem noção do que eu acabei de descobrir? Eu descobri que eu tenho um irmão. Descobri que ele fugiu quando tinha sete anos de idade.


Neste momento, Mateus parece um pouco nervoso e chocado. Por alguns segundos o silêncio reina no ambiente e as tentativas do mais velho de falar alguma coisa são falhas.


DANIEL — Chocante, não é? Agora imagina aí você ser a pessoa que acabou de descobrir tudo isso de uma só vez? E pior: saber que sua mãe, a pessoa que te criou, fez questão de esconder quem você é por tanto tempo?


MATEUS — Ela te falou porque o seu irmão fugiu?


DANIEL — Não. Quando eu perguntei ela simplesmente me expulsou do quarto como se eu fosse a pior pessoa do mundo e como se eu tivesse fazendo algum mal pra ela. Ela ainda me esconde coisas!


MATEUS — Com essa atitude, é claro que esconde. (T) Você quer passar a noite aqui comigo? Óh, prometo te fazer esquecer isso tudo com um abraço quentinho e gostoso.


Daniel solta um pequeno riso e um suspiro, abraçando Mateus fortemente logo em seguida. Os dois permanecem abraçados por longos segundos.


CENA 03/ MANSÃO DOS BROOMER/ INT./ QUARTO DE VALENTINA/ NOITE.


Valentina sofre sozinha em seu quarto. Ela olha para o alto e parece extremamente afetada por tudo. Seu olhar é vazio, sua expressão é de desespero.


FLASHBACK ON.


1995. Valentina está sentada no sofá amamentando um bebê. É Daniel ainda recém nascido. Atrás de uma porta, Ruan observa toda a cena. Sua expressão envolve um misto de decepção e admiração. A mulher continua amamentando, até que de repente Mário entra na casa mais uma vez bêbado e totalmente bruto. Valentina logo trata de caminhar até o quarto e deixar Daniel na cama.


VALENTINA — (Chamando) Ruan? Fica aqui com seu irmão, meu filho. Já a mãe volta, tá certo?


A mulher deposita um beijo na testa do garoto e outro na bochecha do bebê. Ela fecha a porta e logo em seguida volta para a sala. No quarto, Ruan segura Daniel nos braços e resolve observar o que se passa na sala escondido atrás da porta.


VALENTINA — (Irritada) De novo, Mário? Até quando, hein? Até quando você vai ficar aparecendo na frente dos meus filhos como se fosse um mendigo bruto e bêbado?


Ao terminar se proferir as palavras, Valentina recebe um forte tapa em seu rosto. De repente, a mulher revida o tapa e Mário fica ainda mais furioso. Ele segura pelos cabelos da mulher e dá um outro tapa bastante forte nela. Ela cai no chão e dessa vez Mário deposita alguns chutes nela ao mesmo tempo que grita sem parar.


MÁRIO — (Furioso) Nunca mais levanta a mão pro teu homem, ouviu, sua vagabunda? Na próxima vez eu te mato.


Ele sai da sala e vai até a cozinha, deixando Valentina na sala chorando de tanto sentir dor. Ruan observa toda a cena e deixa suas lágrimas escaparem ao mesmo tempo que segura Daniel em seus braços.


Ruan — (P/Daniel) Eu vou cuidar de você. Nada vai te acontecer!


FLASHBACK OFF.


Valentina chora sem parar ao relembrar do seu filho. Ela pega seu celular e tenta fazer uma ligação para Carla, mas a mulher não atende. Valentina permanece chorando por um longo tempo, até que ela deita na cama de peito pra cima e tenta respirar fundo.


VALENTINA — Eu daria tudo pra voltar no tempo e tentar fazer de tudo pra que você tivesse boas lembranças da sua infância, meu filho!


CENA 04/ PLANOS GERAIS/ CIDADE/ CARROS/ PRÉDIOS/ CASAS/ A MANHÃ CHEGANDO.


Corta Para:


CENA 05/ CASA DE MATEUS/ INT./ COZINHA/ MANHÃ.


Mateus está terminando de preparar um café, enquanto Daniel está sentado em um banco em frente ao balcão. Ele parece estar ainda bastante abalado. Mateus o lança alguns olhares preocupados, enquanto o mais novo revira os ovos mexidos ao lado de algumas torradas no prato. Mateus enfim termina de preparar o café e serve um pouco em uma xícara para seu namorado, sentando ao seu lado logo em seguida.


MATEUS — (Preocupado/Descontraindo) Você deveria comer os ovos mexidos. Sabe, é uma das minhas especialidades. Sabia que nas horas vagas eu sou profissional do ovo?


O mais novo solta um um pequeno riso por ter achado graça no comentário do namorado e agora dá uma pequena garfada nos ovos mexidos e leva até a boca.


DANIEL — (Mastigando) Hum, está perfeito!


MATEUS — (Romântico) Assim como você!


Daniel sorri, sem graça.


MATEUS — (Preocupado) Como você está se sentindo?


DANIEL — Estou me sentindo mais enganado do que nunca. Eu realmente não vou conseguir seguir em frente sem saber de tudo. É importante pra mim, você me entende?


MATEUS — Saber da verdade é libertador. E sim, eu te entendo!


DANIEL — Você acha que eu deveria insistir pra ela me dizer o restante da história?


MATEUS — O que eu acho? Eu acho que a sua mãe só quer te fazer sofrer. É isso que eu acho! - Daniel observa atentamente as palavras do namorado. - Mas se você precisa saber e esse é seu único meio, vai em frente. Você tem o meu apoio!


Daniel sorri fraco para Mateus e lhe dá um forte abraço seguido de um beijo carinhoso.


CENA 06/ MANSÃO DOS BROOMER/ INT./ SALA/ MANHÃ.


CARLA — (Curiosa/Atônita) Ele descobriu sobre o irmão?


VALENTINA — (Destruída) Infelizmente ele descobriu sim!


CARLA — Mas e agora? O que foi que ele fez depois?


VALENTINA — Eu tive que contar sobre o Ruan, né? Eu não pude falar tudo. Eu não tive coragem! (T) Sabe, Carla, às vezes eu… eu acho que sou exatamente o que o Daniel disse: uma covarde. Uma medrosa, egoísta e que merece morrer sozinha, sem ninguém.


CARLA — (Espantada) Não! Não diz isso, Valentina. Você é uma mulher muito forte. Olha o tanto de coisas que você já passou e continua aí firme? Eu no teu lugar não iria saber o que fazer.


VALENTINA — (Chorando) Eu sei que só permaneço de pé ainda por causa dele. Só por causa dele! Meu filho é tudo pra mim. Eu jamais vou conseguir viver sabendo que ele pode não me perdoar por algo que eu fiz pensando nele, pensando no futuro dele!


CARLA — Eu entendo você. Sei do que passou e pode ter certeza que estou do seu lado pro que der e vier!


VALENTINA — Eu… eu não sei se vou suportar. (T) Ele disse, Carla. Ele disse que nunca iria me perdoar. O que eu faço, minha amiga? Eu não sei pra que lado correr!


CARLA — Talvez você não precise mais correr.


VALENTINA – (Confusa) Do quê que você tá falando?


CARLA – Eu estou falando sobre você abrir o jogo logo de uma vez, Valentina. É sobre isso!


VALENTINA – (Apreensiva) Eu não posso! Você tem ideia do que pode acontecer?


CARLA – Sim, eu tenho ideia do que pode acontecer. Assim como eu também tenho ideia do que vai acontecer se você não falar logo de uma vez. Imagina como seu filho vai viver, minha amiga? Você não tem pena dele?


Valentina segue extremamente apreensiva, mas agora calada. Ela olha para o alto, passa as mãos no rosto. Sua perna começa a tremer ao mesmo tempo que suas mãos começam a suar frio.


VALENTINA – (Destruída) Eu… eu não aguento mais. Eu vou subir um pouquinho, tá certo? Se você quiser, pode ficar. Só não me siga. Eu preciso ficar sozinha!


Olhando atentamente para Valentina, Carla concorda com a cabeça e vê sua amiga levantar, indo diretamente até as escadas e subindo-as.


Corta Para:


Valentina está terminando de subir as escadas. O longo corredor é vazio e silencioso. É também um pouco escuro, com uma janela com cortinas brancas na parede, lá no final. A mulher caminha lentamente, extremamente transtornada. Ela lembra de várias situações e ocasiões durante a caminhada e isso a faz ficar ainda mais nervosa e desesperada.


O rosto de Valentina expressa muito medo, muito desespero e várias lágrimas caem sem parar.


(Pensamento - Valentina)


"DANIEL – (…) E eu te digo uma coisa: se eu descobrir tudo por conta própria, aí vai ser muito pior. Porque se tem uma coisa que eu prezo, é honestidade. Ainda mais se for algo relacionado a mim."


"CARLA – Sim, eu tenho ideia do que pode acontecer. Assim como eu também tenho ideia do que vai acontecer se você não falar logo de uma vez. Imagina como seu filho vai viver, minha amiga? Você não tem pena dele?'


"DANIEL — (Gritando/Chorando) Eu nunca vou te perdoar, Valentina. Você tá me ouvindo? Nunca vou te perdoar. Você vai morrer sozinha e sem ninguém como merece."


Neste momento, Valentina entra no seu quarto e vai caminhando até o banheiro. Entrando no cômodo, a mulher para em frente ao espelho e se observa atentamente. Sua aparência é acabada. Sua pele é pálida, seus lábios são pálidos, suas olheiras são aparentes e seus olhos bastante vermelhos. Seu olhar é sem vida.


Após alguns longos segundos se observando, ela pega uma grande quantidade de remédios na prateleira e coloca todos os comprimidos na palma da sua mão esquerda. Lentamente, a mulher vai levando-os na direção da sua boca, até que…


CARLA – Você acha mesmo que isso aí é a saída?


Valentina se vira rapidamente até dar de cara com sua amiga parada e encostada na porta.


VALENTINA – O que você tá fazendo aqui? Eu falei pra você não me seguir.


CARLA – Se eu não tivesse te seguido, você provavelmente estaria no chão agonizando e estrebuchando. 


VALENTINA – Mas era isso que eu queria. Só assim eu iria parar de decepcionar quem eu amo.


CARLA – Só vai parar de decepcionar quem você ama quando contar a verdade pro seu filho. Você queria o quê com isso? Ir embora e deixar ele sem saber de nada? Isso não é a saída nem pra você e nem pra ele.


Valentina desaba. A mulher abraça Carla e segue desesperada, extremamente desesperada.


VALENTINA – (Chorando) Eu só quero o bem dele, Carla. Eu só fiz isso por ele! (T) Não sei como vou fazer isso. É demais pra mim!


CARLA – Calma! Se você precisar que eu te ajude, que eu esteja presente na hora, eu vou estar aqui. Só se acalma!


VALENTINA – Eu prefiro fazer isso sozinha. Eu vou ligar pra ele, chamar ele aqui e contar. (T) Não diz nada pra ele sobre o que eu tentei fazer, tudo bem?


Carla assente com a cabeça, concordando.


CARLA – Vai dar tudo certo. Vai por mim, vai ser melhor!


As duas continuam abraçadas. Aos poucos Valentina vai se acalmando.


CENA 07/ CASA DE MATEUS/ INT./ COZINHA/ MANHÃ.


Daniel e Mateus terminam de tomar seu café da manhã. O mais novo parece menos abalado, mas ainda assim mantém mágoas e dúvidas em seu olhar. Ele se levanta e começa a caminhar na direção do quarto.


MATEUS – (P/Daniel) Onde você vai?


DANIEL – Vou tomar um banho. Calma, eu não vou fugir de você!


MATEUS – Eu também não acho que você fugiria de mim.


DANIEL – (Misterioso) Será que não?


MATEUS – Nossa, nem brinca com isso. Eu acho que morreria!


O rapaz volta até seu namorado e lhe dá um beijo bastante quente por alguns segundos. Ao se separarem, Daniel caminha até o banheiro, mas antes entra no quarto para pegar uma toalha.


DANIEL – (Gritando P/Mateus) Tem toalhas limpas aqui?


Corta Para:


Na cozinha, ao ouvir Daniel gritando do quarto, Mateus rapidamente fica nervoso e começa a caminhar rápido, quase correndo até seu namorado. Ele chega no quarto, mas para ao ver Daniel encarando algumas fotos cortadas no guarda-roupas.


DANIEL – (Confuso) O que é isso aqui, Mateus?


MATEUS – (Pouco nervoso) Ah, é só uma surpresa que eu estava preparando para você. Nada demais!


DANIEL – Surpresa? Que surpresa? Posso saber?


MATEUS – Não, claro que não! É uma surpresa, não é? Então…


DANIEL – (Mudando de assunto) Nossa, tá bom! (T) Ah, vou indo tomar meu banho. Só passei aqui pra pegar uma toalha!


MATEUS – Não, espera! Eu… eu quero te dar uma coisa. É pra você lembrar que eu vou sempre estar aqui pra você.


O homem retira algo do seu bolso direito e estende sua mão para Daniel, revelando uma chave. A chave da sua casa.


DANIEL – (Surpreso) Nossa, amor, que lindo! Mas você… você tem certeza disso?


MATEUS – Estamos juntos há um ano, Daniel. Eu tenho certeza que você é a pessoa certa pra mim. É a pessoa que mais me entende, que mais me ama… é a pessoa mais importante da minha vida. E eu confio em você. Você confia em mim?


DANIEL – Claro que confio. Você tá sempre… junto de mim, em qualquer lugar ou qualquer situação. Eu sou uma pessoa extremamente complicada e ainda assim te sobra paciência pra me amar.


MATEUS – Você não é complicado. De modo algum! É só que muitas das vezes somos contemplados com uma bela e desgraçada situação delicada.


Daniel solta um pequeno riso pro homem e o abraça em sinal de agradecimento. Agora ele começa a caminhar pra fora do quarto e logo em seguida Mateus faz o mesmo.


Corta Para:


Na cozinha, o celular de Daniel não para de tocar em cima do balcão. Mateus vai se aproximando do aparelho e atende a ligação. É Valentina.


MATEUS – (Na chamada/Grosso) O que é que você quer? (T) Falar com seu filho? Depois de tudo que escondeu agora você quer falar? (T) O estrago já está feito, dona Valentina! Mas não se preocupa não que eu vou falar com ele sim. Se é pro bem do Daniel, eu falo. Passe bem!


O homem encerra a chamada e coloca o celular de volta no balcão.


CENA 08/ MANSÃO DOS BROOMER/ INT./ SALA/ MANHÃ.


VALENTINA – (Irritada) Que moleque insolente! Como é que ele tem coragem de me falar essas coisas sem nem saber da história? Eu tenho certeza que de alguma forma esse garoto está colocando meu filho contra mim!


CARLA – Acho natural ele defender o namorado. Mas pudera, não é? Ele só conhece a versão do Daniel.


Valentina fica calada ao ouvir as palavras da amiga.


CARLA – Eu vou ir embora agora, vou te deixar sozinha pra pensar em como falar tudo pra ele. Me promete que não vai tentar nenhuma besteira de novo.


Valentina balança a cabeça assentindo e recebe um abraço da amiga, que logo em seguida se levanta e sai do cômodo, deixando a mulher sozinha e pensativa, olhando pro vazio. Ela suspira, parece extremamente preocupada.


CENA 09/ CASA DE MATEUS/ INT./ SALA/ MANHÃ.


Após tomar banho e vestir uma roupa, Daniel caminha até a sala e se joga do lado de Mateus afim de assistir TV com o homem.


MATEUS – A sua mãe ligou pra você.


DANIEL – (Curioso) E o que foi que ela falou?


MATEUS – Pediu pra que eu te desse um recado. Ela afirmou que está disposta a falar com você e esclarecer alguns pontos.


DANIEL – (Nervoso) Você acha que eu devo ir?


MATEUS – Eu não preciso achar nada! Esse tempo todo você passou tentando descobrir quem você é, não sou eu quem devo te dizer o que deve fazer. Você tem esse direito!


Daniel demonstra estar bastante pensativo. Ele olha pro alto e se perde em seus pensamentos. Mateus presta atenção na TV, enquanto o mais novo continua do mesmo jeito.


CENA 10/ PLANOS GERAIS/ CIDADE/ PRÉDIOS/ CASAS/ A NOITE CHEGANDO.


Corta Para:


CENA 11/ MANSÃO DOS BROOMER/ INT./ SALA/ NOITE.


A sala agora é iluminada, dando ainda mais ênfase no conforto e na decoração clean do cômodo. Valentina, sentada no sofá, está extremamente ansiosa. Seu pé direito balança sem parar, enquanto sua aparência ainda é totalmente acabada.


De repente, a porta é aberta e por ela passa um Daniel mais contido e ligeiramente nervoso. Ainda magoado, o rapaz caminha até o sofá e senta em uma distância considerável de Valentina. Eles se olham por longos segundos. Ambos sentem vontade de chorar por estarem naquela situação. O silêncio parece ser interminável.


VALENTINA – (Nervosa) Pelo visto o seu namorado te deu o recado.


DANIEL – É, ele deu. Ainda bem que ele não me esconde coisas!


VALENTINA – Vai começar com seus joguinhos de indiretas, talvez bem diretas?


DANIEL – (Irônico) Eu esqueci que a princesa Valentina é frágil demais pra encarar qualquer coisa. Coitadinha dela, não é? Com toda certeza é a pessoa mais lesada de toda essa situação.


VALENTINA – Você tem razão. Vamos parar por aqui, não é? Não quero discutir, afinal de contas eu te chamei aqui pra esclarecer dúvidas. Por onde você quer começar?


DANIEL – Vamos começar com o estranho fato de que você viu seu filho fugir de casa com sete anos de idade e não fez nada pra impedir. O que foi que aconteceu pra ele fugir de casa assim? An? Agora me conta a verdade, porque eu não estou nem um pouco afim de ser feito de trouxa novamente.


VALENTINA – (Nervosa) Te contar a verdade?


Daniel assente com a cabeça e olha atentamente para sua mãe, cada vez mais nervosa e ofegante. A mulher mantém silêncio por um tempinho.


VALENTINA – O seu irmão, ele… - Ao passo que ela tenta falar, vai ficando cada vez mais desesperada. - ele fugiu porque… porque me viu…


Um silêncio incômodo se faz presente por algum tempo. A mulher fecha seus olhos, respira fundo e volta a encarar Daniel. Sua expressão de desespero fica cada vez mais visível ao passo que ela tenta falar.


VALENTINA – (Nervosa/Desesperada) Porque me viu matando o seu pai.


Neste momento, Daniel entra em total estado de choque. No mesmo instante as suas mãos gelam e suas lágrimas caem instantaneamente. Ele encara Valentina com pavor. Sua única expressão possível é de choque.



FIM