Prisioneiros do Passado - Episódio 01
Episódio 01
Escrita por: Ted Moreira
Com 03 Episódios.
INÍCIO
O ambiente é de pouca iluminação. A visão é sobre uma grande porta com textura de madeira amarelada e com toques refinados, parece ser a porta de uma grande e luxuosa casa. De longe pode-se ouvir vozes abafadas que vão ficando cada vez mais próximas diante da aproximação da visão. Alguns segundos se passam e a visão continua a mesma, porém mais distante.
Corta Para:
Agora estamos na cozinha, diante de duas pessoas: Daniel (Jesuíta Barbosa, 25) e Valentina (Patrícia Pillar, 51). Ambos discutem fervorosamente; enquanto o rapaz parece estar furioso, a mulher parece estar desesperada durante a discussão.
DANIEL — (Furioso/Decepcionado) Você vai acabar sozinha. Você esconde tudo sobre mim e não sente nem uma gota de remorso. Você é perversa, é malvada!
Ele começa a caminhar em direção a outro cômodo.
VALENTINA — (Desesperada/Chorando) Daniel, pelo amor de deus, meu filho, não faz isso comigo!
O rapaz caminha sem parar até a sala e a mulher tenta ir atrás, proferindo súplicas de perdão ao mesmo tempo que tenta parar o rapaz, mas sem sucesso. Daniel então abre a porta e, em seguida, bate com força ao sair, deixando Valentina sozinha na casa e desesperada. A mulher chora sem parar ao mesmo que parece entrar em choque.
Letreiro: Algum Tempo Depois.
CENA 02/ CASA DE MATEUS/ INT./SALA/ TARDE.
Sentado no colo de Mateus (Giovanni Dopico, 32) no sofá, Daniel se esfrega intensamente no homem. Os dois estão sem camisa e apenas de cueca. Os beijos e amassos também são intensos e apaixonados. Eles continuam na mesma posição por alguns segundos, até que o mais novo sai de cima do mais velho e acaba por manter uma expressão de insatisfação.
MATEUS — (Confuso/Calmo) O que houve? Eu fiz alguma coisa errada? É isso?
DANIEL — (Compreensivo/Insatisfeito) Não, você não fez nada de errado. Pode ficar tranquilo! (T) É só a minha mãe, sabe? Por mais que eu tente arrancar alguma coisa dela sobre o meu pai, ela não me diz. É como se… se estivesse escondendo algo grave!
MATEUS — (Duvidoso) A sua mãe me parece uma mulher muito misteriosa.
DANIEL — E ela é!
MATEUS — Pra ser sincero, ao meu ver não dá pra confiar em pessoas totalmente misteriosas. Mistérios são naturais, confesso, mas tudo em exagero é duvidoso.
DANIEL — Você tem razão! (t) Essa característica dela me irrita e me afeta porque eu não tenhos outros meios de saber sobre o meu pai.
MATEUS — Dá uma prensa nela. Tenho certeza que uma hora ou outra ela te conta!
DANIEL — Eu tento fazer isso há tempos, mas ela sempre foge do assunto.
MATEUS — Então chegou a hora de você fazer ela parar de fugir. Dá uma prensa. Vai por mim, deve funcionar!
Daniel concorda com a cabeça e solta um riso para Mateus, o abraçando logo em seguida. Eles permanecem assim por alguns segundos.
CENA 03/ MANSÃO DOS BROOMER/ INT./ COZINHA/ TARDE.
A visão é de uma mulher em pé, de costas e cortando legumes em um grande balcão. É Valentina. Ela corta os legumes sem parar. Parece estar meio pra baixo, talvez lembrando se alguma coisa. Agora ela entra em um transe, parando de cortar os legumes e agora olhando para o alto.
*FLASHBACK ON.
O ano é de 1995. O ambiente é meio escuro e parece sujo. É um quarto pequeno e com móveis velhos, com texturas de acabados. Há uma mulher sentada na cama e segurando uma carta em suas mãos. É Valentina. Ao seu lado tem um bebê dormindo tranquilamente. Ela chora de cabeça baixa em silêncio, apenas dando alguns soluços em curtos espaços de tempo.
De repente um homem alto, forte entra no cômodo e para na frente da mulher, que lentamente vai levantando sua cabeça e seu olhar até encontrar o olhar frio e meio desnorteado do homem, que dá indícios de embriaguez.
VALENTINA — (Nervosa/Chorosa) Você… você me traiu?
Ao terminar de proferir as palavras, a mulher recebe um forte tapa em seu rosto e no mesmo instante cai deitada na cama, ao lado do seu filho.
MÁRIO — (Atropelado/Furioso) Você está maluca, ôh... sua vagabunda? (T) E se eu tivesse traído? Qual que é o problema? Já que você não me serve mais pra nada, eu quero mais é que você se foda!
A mulher permanece deitada na cama, com uma mão no local do tapa e chorando compulsivamente e encarando seu filho, como se estivesse temendo pelo seu futuro. Ela continua o encarando, permanecendo assim por um longo tempo.
*FLASHBACK OFF.
A mulher permanece olhando para o alto por poucos segundos e, em seguida, quebra o transe e solta a faca em cima do balcão.
VALENTINA — (Suspira/Olhar focado no ar) Ai, meu filho… você não precisa ouvir tudo isso. Eu sinto muito!
CENA 04/ CASA DE MATEUS/ INT. / SALA/ TARDE.
Mateus e Daniel estão no sofá; o primeiro sentado e o segundo com a cabeça em seu colo. O mais velho faz um cafuné na cabeça do mais novo por alguns segundos, até que ele se levanta e senta ao lado do seu namorado.
DANIEL — Sabe, Mateus, estava pensando e eu realmente gostaria de abrir logo o jogo pra minha mãe. Sabe? Contar logo tudo de uma vez. Eu tenho certeza que seria muito melhor pra nós dois.
MATEUS — (Apreensivo/Receoso) Sei não, hein? A sua mãe me parece uma pessoa muito focada no passado. Alguém assim jamais teria uma mente aberta pra aceitar. De modo algum!
DANIEL — (Meio revoltado) E é por isso que vamos viver escondidos pro resto da vida? Olha, eu pretendo me casar. Pretendo… adotar uns filhos. tem muita criança por aí precisando de pais como nós dois.
MATEUS — (Receoso) Você quer mesmo fazer isso? Olha lá, hein? Não pode dar pra trás depois.
DANIEL — (Firme/Decidido) Não, eu não vou dar pra trás. Fica tranquilo que quanto a isso eu sei muito bem que posso suportar qualquer situação. Eu sou forte o suficiente!
MATEUS — (Arrependido) Olha, eu não quis te chamar de fraco ou algo assim. Se pareceu isso, me perdoa…
DANIEL — (Interrompendo/Doce) Não, pode ficar tranquilo. Jamais pensaria que você acha tal coisa de mim.
Mateus olha para Daniel por alguns longos segundos, com um sorriso bobo no rosto. O mais novo solta um sorriso sem graça e muda o foco do olhar, denunciando seu desconforto com o olhar penetrante do namorado sobre si.
DANIEL — (Desconfortável/Tímido) Não me olha assim que eu fico sem graça.
MATEUS — (Apaixonado) Eu só estou admirando a sua beleza. Você é lindo!
Sem graça, Daniel solta outro riso carregado de timidez. Agora ele dá um longo selinho no namorado e o abraça.
DANIEL — (Decidido) Nós vamos fazer isso juntos!
CENA 05/ PLANOS GERAIS/ CIDADE-CENTRO/ MANSÕES.
Corta Para:
CENA 06/ MANSÃO DOS BROOMER/ INT./ COZINHA/ TARDE.
Ainda fazendo o almoço, Valentina se movimenta para lá e pra cá. Próxima dela está Carla (Camila Pitanga, 47) cortando alguns legumes, como cebola e tomate. As duas estão em uma conversa e vez ou outra se olham sem parar de fazer o que estão fazendo.
CARLA — (Curiosa) Mas como assim? Você discutiu feio com ele?
VALENTINA — Discuti! Ah, Carla, eu não quero e também não posso derramar todas essas merdas em cima do meu filho.
CARLA — Ai, minha amiga, você não acha que está poupando demais o Daniel, não? Ele já é um adulto de vinte e cinco anos, tem mais é que saber sobre o passado dele sim!
VALENTINA — (Compreensiva/Receosa) Eu sei. Eu sei! Só que pra mim não adianta eu contar e depois me sentir mal por ver que meu filho talvez nunca me perdoe.
CARLA — (Direta) Valentina, é o passado dele. Qualquer pessoa tem o direito de saber de onde vem. Você vai mesmo privar o seu filho de conhecer mais sobre si?
VALENTINA — Eu tenho certeza que nesse caso saber menos sobre si é o melhor negócio. Vai por mim, ele vai viver melhor sem saber que o pai fez o que fez…
— "Que o pai fez..."' o que?
Neste momento, Valentina e Carla estão diante de um Daniel extremamente curioso e revoltado. Sua expressão facial denuncia todas as suas dúvidas quanto ao seu passado, enquanto Carla está assustada e, por fim, Valentina expressando seu medo.
DANIEL — Eu posso saber também ou é segredinho das duas?
VALENTINA — (Amorosa) Meu filho!
DANIEL — (Revoltado) Não, não não. Não vem com essa de "meu filho" agora, não. Eu quero saber direitinho o que as duas estavam falando sobre o meu passado aí. E melhor: sobre o meu pai.
CARLA — (Receosa) Eu… eu vou deixar vocês dois conversarem sozinhos.
A mulher começa a caminhar para fora da cozinha, mas é impedida por Daniel, que a segura pelo braço.
DANIEL — (P/ Carla) Não, você fica! - Agora ele volta seu olhar para Valentina. - Cês não vão me contar o que tanto falavam de mim aqui? Por que você tem medo que eu nunca mais te perdoe? An?
VALENTINA — (Meio calma/Receosa por dentro/Mudando o assunto) Filho, pelo amor de deus! Nós estávamos aqui apenas botando o papo em dia. A Carla estava até me ajudando, acredita?
DANIEL — (Furioso) Você vai continuar escondendo de mim quem eu sou, não é? Você vai mesmo ser cruel a esse ponto? - O rapaz agora solta algumas lágrimas, ao mesmo passo que sua voz fica embargada.
VALENTINA — (Desesperada/Chorosa) Filho, não faz isso comigo!
DANIEL — (Revoltado) "Não faz isso comigo!" digo eu! Você só vai sossegar quando ficar sozinha. Porque é isso que vai acontecer quando eu não suportar mais seu egoísmo e me mandar de vez daqui. É isso que vai acontecer.
O rapaz agora dá meia-volta e rapidamente sai do ambiente, sendo seguido por uma Valentina ainda mais desesperada e chorosa.
VALENTINA — (Desesperada) Filho, volta aqui. Daniel! Por favor, Daniel, me ouve. Me escuta, meu filho!
Ela para no meio da sala ao perceber que Daniel já havia saído. Seu choro é silencioso, apenas algumas lágrimas caindo. Por trás dela surge Carla, pronta para abraçar sua amiga e assim o faz. E é aí que Valentina desmorona.
VALENTINA — (Entre Soluços) É… é difícil pra mim! Por que ele não entende isso logo de uma vez?
CENA 07/ CASA DE MATEUS/ INT./ QUARTO/ TARDE.
Sentado em uma poltrona branca, grande e de aparência confortável ao lado da cama, Mateus tem uma foto em suas mãos. Nela, o homem aparece abraçando Daniel. Os dois parecem bem felizes e alegres. O homem solta um riso de felicidade e, ao ouvir a campainha tocando, resolve pôr a fotografia em cima de uma mesinha também ao lado da cama e atrás da poltrona.
Mateus se levanta e sai do cômodo, indo diretamente para a SALA, caminhando na direção da porta logo em seguida. Ele abre-a e dá de cara com um Daniel aparentemente triste, exalando dúvidas e descontentamento.
MATEUS — (Curioso/Apreensivo) O que houve? Você… você tá triste?
Neste momento, Daniel dá um forte abraço em Mateus e parece desabar. O rapaz chora desabafando no ombro do seu namorado, enquanto o mais velho parece estar cheio de dúvidas em relação ao desespero do seu amor.
MATEUS — (Sem entender) Por que você está assim? An? Me diz pra eu poder te ajudar!
DANIEL — (Entre soluços) Ela tá me escondendo algo muito grandioso. Eu tenho certeza!
MATEUS — A sua mãe?
DANIEL — (Chorando) Sim! Não tem motivo algum pra ela me esconder tanta coisa. Ainda mais sendo coisas sobre mim, sobre a minha vida, sobre o meu passado. A não ser se for algo grandioso, grave... sei lá!
MATEUS — (Apaziguador) Calma, ok? Fica calmo! Me explica o que aconteceu.
DANIEL — (Nervoso) Eu cheguei em casa e ouvi ela falando algo sobre meu pai com a Carla. Pelo tom da conversa, o meu pai fez algo terrível, algo que em hipótese alguma eu poderia saber.
MATEUS — O que você acha?
DANIEL — Eu não sei! - O garoto chora mais um pouco e, logo em seguida, resolve limpar suas lágrimas. - A única coisa que eu sei é que ela tá me escondendo alguma coisa de muito grave. Eu não estou conseguindo lidar muito bem com tudo isso. Eu sempre tentei empurrar com a barriga sem deixar transparecer que me afeta. Eu simplesmente não aguento mais! Se ela não me disser nada, eu vou atrás por conta própria.
MATEUS — (Irritado) A sua mãe também, hein? Ela não colabora! Tá vendo que o filho está sofrendo por causa de tanto segredo que não têm a mínima razão pra existirem… e ainda assim mantém. Pra quê? Pra te fazer sofrer mais ainda?
DANIEL — Ela é egoísta! Parece que ela tem medo que eu jamais perdoe ela. Agora me diz: tem ou não tem algo grave por trás disso tudo?
MATEUS — De fato a sua mãe te esconde algo muito grave. Mas olha, eu tenho certeza que um dia você vai descobrir. Eu torço muito pra que tudo seja esclarecido de uma vez por todas. Aí eu vou ficar do seu lado pro que der e vier!
Daniel solta um riso de agradecimento para Mateus e logo em seguida o abraça novamente, ainda mais forte, e dessa vez enche o namorado de beijos e carícias. Eles permanecem assim por longos segundos.
CENA 08/ MANSÃO DOS BROOMER/ INT./ SALA/ TARDE.
Ainda bastante nervosa e sentida, Valentina se assenta no enorme sofá com um copo de água com açúcar nas mãos. Carla está ao seu lado, depositando suas mãos nas costas da amiga em sinal de apoio.
VALENTINA — (Nervosa/Apreensiva) Como é que eu posso, Carla? Como é que eu posso derramar tudo isso em cima do meu filho sem mais nem menos? Eu não posso simplesmente dizer para ele do que ele é fruto e de tudo que foi a minha vida. Ele não suportaria!
CARLA — Você não sabe disso. O Daniel me parece um menino muito forte. Ele só quer… honestidade da sua parte, e vamos combinar que não é bem isso que você vem sendo com ele. Ao meu ver é o mínimo!
VALENTINA — Do que adianta eu ser honesta, falar tudo o que aconteceu, sendo que meu filho pode cair em uma depressão? Sendo que ele pode nunca me perdoar? Você… você sabe da história toda. E sabe também que entender meu lado pode não ser tão fácil assim.
CARLA — Tem razão. Você tem razão! Mas o Daniel também tem, e ao meu ver muito mais do que você. Ele tem direito de saber, você tá cansada de saber disso. Vai ser muito mais fácil pra ele entender o seu lado ouvindo tudo da sua boca do que descobrindo de qualquer outra maneira.
VALENTINA — Ele não vai saber! Para todos os efeitos, o que aconteceu foi um atentado.
CENA 09/ PLANOS GERAIS/ EXT./ CASAS/ GRANDES PRÉDIOS/ A NOITE CHEGANDO.
Corta Para:
CENA 10/ CASA DE MATEUS/ INT./ QUARTO/ NOITE.
Pode-se ouvir gemidos intensos. Os movimentos por debaixo dos lençóis são tão intensos quanto. Mateus está em cima de Daniel — que está deitado de bruços, meio empinando, fazendo alguns movimentos. As estocadas são fortes e os dois parecem estar sentindo prazer intenso. Na medida que ambos chegam ao orgasmo, os gemidos se intensificam ainda mais. Os movimentos vão diminuindo e Mateus, por fim, sai de cima do mais novo.
MATEUS — (Ofegante) Nossa, você é muito gostoso!
Sem responder qualquer coisa, Daniel dá um beijo intenso no seu namorado e deita sua cabeça em seu peito nú. Aos poucos, com a ajuda do cafuné que Mateus começara a fazer em sua cabeça, o mais novo vai adormecendo. Mateus permanece observando o rapaz adormecido em seu peito.
CENA 11/ PLANOS GERAIS/ EXT./ CASAS/ PRÉDIOS/ CARROS E MOTOS NAS ESTRADAS/ A MANHÃ CHEGANDO.
Corta Para:
CENA 12/ MANSÃO DOS BROOMER/ INT./ SALA/ MANHÃ.
Sentada no sofá e sozinha, Valentina parece apreensiva. Ela observa as horas passarem no grande relógio preso na parede acima da imensa porta da mansão.
De repente, sua expressão apreensiva dá lugar a um sorriso de alívio ao ver Daniel abrindo a porta e adentrando a mansão junto com alguém, um homem. É Mateus. A mulher vai rapidamente até seu filho e para em sua frente. Os dois estão parados em pé, também encarando Valentina.
VALENTINA — (Aliviada) Filho…
DANIEL — (Frio) Não diz nada, por favor. Eu não vim aqui pra discutir com você. Eu vim aqui pra te dizer uma coisa muito importante da minha vida que eu acho que você merece saber, apesar de não ter a mesma consideração por mim.
VALENTINA — (Triste) Filho, não faz iss..
DANIEL — (Dedo a frente da boca) Shhhh! Deixa eu falar?
Valentina assente com a cabeça e continua olhando pro seu filho, ainda mantendo sua expressão triste. Daniel abraça Mateus de lado e o faz se aproximar mais ainda de si.
DANIEL — Esse aqui é o… o Mateus. Meu namorado!
A mulher volta seu olhar para Mateus, que mantém sua calma e tranquilidade. Os dois se olham por longos segundos. O silêncio se faz presente em todo o momento.
VALENTINA — (Chocada) Seu.. seu namo… namorado?
DANIEL — (Direto) Isso. Exatamente isso! E eu não vim aqui te pedir pra aceitar nada. Até porque sobre isso você não tem o que aceitar ou deixar de aceitar. Diz respeito a mim e a ele!
VALENTINA — Não fala assim comigo, filho!
Mateus permanece calado e observando os dois.
DANIEL — Não, não. Eu preciso falar. Eu preciso deixar tudo claro que é pra você não vir querer comandar os meus sentimentos como tenta comandar o que eu tenho que saber ou não.
VALENTINA — Você está sendo injusto comigo. Eu só quero o seu bem. Só isso!
DANIEL — (Chorando) E você por algum momento imaginou que o melhor pra mim é exatamente o contrário? Mãe, eu tô aqui te pedindo: me fala. Me fala o que eu quero saber, pelo amor de deus!
Valentina, desesperada e sem reação, olha diretamente para o seu filho. Agora ela olha para Mateus, que balança sua cabeça positivamente em sinal para que ela conte tudo a Daniel. Seu olhar volta direto para Daniel.
VALENTINA — (Chorando) Eu te prometo, Daniel. Te prometo que quando eu tiver coragem de te falar tudo, vai ser a primeira coisa que vou fazer. (T) Eu só não quero estragar a sua vida.
DANIEL — (Revoltado) Estragar a minha vida? Como assim a estragar a minha vida? Será que você não percebe que já está estragando ela sendo egoísta desse jeito? (T) Escuta aqui: seja lá o que for que você tenha pra me dizer, eu te garanto que nada vai ser pior do quê o que eu estou sentindo agora. Essa sensação de dúvida, de… de não saber quem eu sou, de onde eu vim, onde eu me encaixo… você tem alguma noção do que é isso?
Valentina está desesperada. Ela permanece calada, apenas chorando, enquanto Mateus se mantém calmo e tranquilo apenas observando tudo.
DANIEL — Eu espero que você pense e reflita até deixar de ser essa egoísta que prefere deixar o filho sofrendo apenas por um capricho. E eu te digo uma coisa: se eu descobrir tudo por conta própria, aí vai ser muito pior. Porque se tem uma coisa que eu prezo, é honestidade. Ainda mais se for algo relacionado a mim.
O rapaz segura no braço de Mateus e os dois vão saindo da casa, enquanto Valentina permanece estática no sofá, apenas sofrendo e derramando lágrimas.
CENA 13/ PRAÇA NO CENTRO DA CIDADE/ BANCOS/ MANHÃ.
O local é bem movimentado. Algumas pessoas passam constantemente pela frente de Mateus e Daniel, que estão sentados em um pequeno banco em frente à uma fonte cheia de água. O mais velho está meio estirado, com as pernas cruzadas e esticadas, enquanto o mais novo permanece encolhido e com a cabeça encostada no ombro de Mateus. O rapaz está triste, com seu semblante demonstrando toda a sua decepção e sofrimento.
O mais velho agora deposita sua mão nos cabelos de Daniel e começa a fazer um cafuné, enquanto o rapaz se sente ainda mais confortável e seguro.
CENA 14/ PLANOS GERAIS/ EXT./ CASAS/ PRÉDIOS/ CARROS E MOTOS NAS ESTRADAS/ A NOITE CHEGANDO.
Corta Para:
CENA 15/ MANSÃO DOS BROOMER/ INT./ SALA/ NOITE.
A visão está sobre a imensa porta. O ambiente é escuro, as luzes estão apagadas. Lentamente, a porta vai se abrindo e por ela passa um Daniel cauteloso, sem a menor vontade de fazer algum barulho. Ele fecha a porta com cuidado e, em seguida, começa a caminhar em passos curtos até as escadas e sobe-as.
Corta Para:
O longo corredor da mansão também é escuro. Daniel, ainda cauteloso, resolve caminhar na direção do seu quarto, mas para um por alguns segundos em frente à porta do quarto da sua mãe. Em um pequeno movimento, o rapaz empurra lentamente a porta do quarto da sua mãe sem fazer barulho até abrir uma pequena brecha e observa o ambiente para ter certeza de que a mulher está dormindo, mas o que vê é o contrário: Valentina está em pé ao lado de uma pequena mesinha no canto da parede, do lado de uma pequena caixa de coloração laranja.
Ela arrasta um pouco o móvel até conseguir arrancar uma espécie de tampa por trás dele e revelar uma espécie de armazenador. A mulher deposita a pequena caixa dentro do mesmo, o tampa novamente e arrasta o móvel de volta ao seu local original. Neste momento, Daniel, que observa tudo, fecha a porta do quarto e fica parado por alguns segundos em frente à porta, como se estivesse pensando. Ele agora começa a caminhar novamente em silêncio e, desta vez, entra em seu quarto.
Corta Para:
O rapaz agora caminha até a sua cama e se deita, pegando seu celular logo em seguida e observando a tela inicial, que indica diversas ligações de Valentina. Ele deposita o aparelho em cima de uma mesinha ao lado da cama e relaxa, agora olhando para o teto e pensando sobre tudo que lhe aconteceu antes até a cena que presenciou minutos atrás.
Ele olha para o relógio na parede, que indica 22:36 PM. Ele revira na cama por diversas vezes, durante um bom tempo, esperando ele passar.
(Pensamento) "DANIEL — Eu espero que você pense e reflita até deixar de ser essa egoísta que prefere deixar o filho sofrendo apenas por um capricho. E eu te digo uma coisa: se eu descobrir tudo por conta própria, aí vai ser muito pior. Porque se tem uma coisa que eu prezo, é honestidade. Ainda mais se for algo relacionado a mim."
Ele olha novamente no relógio, agora indicando 12:48 AM. Ele então se levanta da cama e sai do seu quarto.
Corta Para:
O rapaz caminha pelo corredor silenciosamente até chegar em frente a porta do quarto da sua mãe. O rapaz primeiro abre uma brecha e observa o cômodo até notar Valentina dormindo. Ele entra com cautela, caminha até a mesinha que sua mãe arrastara horas antes e faz o mesmo até poder ver a tampa e tê-la em seu alcance.
Daniel estende suas mãos e tira a tampa, conseguindo agora ver a pequena caixa de cor laranja. Ele retira de dentro do armazenador e abre-a, dando de cara com algumas fotos antigas. Em uma delas, Valentina, ainda jovem, aparece do lado de uma criança que aparenta ter mais ou menos cinco anos de idade. Daniel constata que não era ele quando criança e vira a foto até ver algumas palavras escritas no verso da mesma.
"Valentina & Ruan
Meu filhinho, você ainda vai ser muito feliz nessa vida. Eu tenho certeza!"
Ao terminar de ler as palavras, Daniel já está com o rosto cheio de lágrimas. Ele está chocado, atônito, nervoso e totalmente abalado. Suas lágrimas caem sem parar e a única reação que consegue esboçar é a de choque.
FIM